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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Jardim


Somos sementinhas lançadas numa terra fértil. Pretendemos dar sorte. Inicialmente precisamos de cuidados específicos, com pouquíssima luz numa espécie de estufa que nos protege do restante do mundo, mas aproximadamente nove meses depois (um pouco antes dependendo do caso) somos levados a um jardim externo, cheio de outras tantas flores e plantas. Àquela terra somos inseridos e lá nos fortalecemos, vamos crescendo, ganhando cor e forma, ficando robustos...

O Tempo passa e com ele muitos jardineiros vêm e vão. Adubam a terra onde estamos e nos regam, nos podam, fazem de nós a flor que todos olham ao passar pelo jardim. Alguns jardineiros são bons, outros péssimos (há profissionais ruins em todas as profissões). Em dado momento dessa história somos flores já bem grandinhas, capazes de utilizar a chuva para não morrer de sede, aprendemos que a luz do sol é fundamental para termos forças e a usamos sem hesitar; lidamos com os diversos climas da natureza. Sobrevivemos. Estamos ali, na solidão coletiva que é viver num jardim. Uma contradição em termos.

Jardim é um terreno onde são cultivadas plantas ornamentais, como muitos chamam. Uma composição paisagística que serve para encher os olhos das pessoas. O que muitos não sabem é que em meio a tanta beleza nascem espontaneamente plantas exóticas capazes de interferir, negativamente, no fluxo das coisas. Estas são fortes, adaptáveis e nem sequer precisam de uma fertilização específica; as flores têm todo um caminho para se apresentarem formosas e sem mais nem menos, surge uma coisa capaz de colocar tudo a perder. Maldita erva daninha, não é uma planta específica, mas qualquer uma que chega espontânea e prejudica a outra. A Flor precisa competir por nutriente, água e espaço. Uma luta. Inúmeras vezes a pobre Flor nem percebe que aquela plantinha, aparentemente inofensiva, é uma inimiga potencial.
       
         Há muitos jardineiros de olhos bem abertos para este jardim. Ufa, que sorte! São eles que identificam a plantinha oportunista e tentam arrancar dali, para nos deixar crescer e nos movimentar com a leveza da brisa (como deve ser). Mas a grande questão é que essas plantinhas que nasceram não saem assim de um dia para o outro, requer tempo, paciência, tanto do jardineiro que resolveu arcar com o trabalho quanto da flor atacada.  Ao se tratar do jardineiro, compete à flor reconhecer sua beleza, encanto, e valor. É uma Escolha intransferível (da flor) permitir que mãos intervenham naquele terreno hostil, assim como é Escolha dela acreditar que o oportunista seja o jardineiro. Salvação ou perdição, umas preferem ser cuidadas no presente e outras se deixam corroer com as ervas daninhas de outrora. Triste, mas é uma escolha e livre arbítrio é lei maior e sempre será. Não esqueça!
     
           Somos flores num vasto jardim, convivendo com a diversidade de vida ali presente, recebendo visita de borboletas e hora e outra precisando de mãos que nos cuidem. Haverá maus jardineiros querendo cortar nosso caule por puro prazer de nos ver menores (a beleza pode incomodar, causar insegurança), contudo, nossa força está na resistente raiz que preservamos bem lá no fundo. Somos efêmeros, mas não estamos sozinhos nessa existência. Sofremos a ação do tempo, enfrentamos todas as estações. As intempéries do inverno nos murcham, mas não há inverno eterno, inferno! Sempre há uma primavera que nos fará flores mais radiantes, mais viçosas, mais flores. Aproveitar o bom de cada tempo, o melhor de cada visita, esquecer a dor latente, mas nunca o que ela nos ensinou é o que nos cabe.

"Não é pelos “pra sempre”, e sim pelos instantes infinitos que vivemos no jardim e, sobretudo, a quem vamos nos mostrar da ponta da raiz até a mais peculiar pétala".


BC.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

O Senhor Razão e a Danada Emoção




Razão e Emoção são moradores de nós. A vida desses dois é uma dicotomia e tentar compreendê-los deixa qualquer um de cabelos em pé!


O Razão é um morador velhinho, homem bom, mas cheio de medos e cuidados. Há quem diga que ele seja meio neurótico, o fato é que o Sr. Razão já passou por poucas e boas e, por esse motivo, nos aconselha a parar diante de um porrada de situações. Ah, quando está diante de uma situação a qual não viveu isso não o faz arriscar, ele sempre conhece um fulano que já passou por aquilo. Ele é cauteloso, busca analisar variáveis e sempre presta muita atenção onde pisa.  Sim, sempre. 

A Emoção, por sua vez, é uma moleca espoleta e sorridente que não pensa em não sentir. Ela brinca, pula, se suja, grita, xinga, chora, fica calada fazendo birra, ela faz tudo que lhe dá na telha sem se importar com o julgamento dos outros, afinal, o sentir é individual e cada um tem seu cada qual.

São de gerações diferentes esses dois. Um beijo mais
caliente para ele é  exposição e para ela demonstração de afeto. Ele gosta de lógica e ela é meio incongruente. Ele pergunta se vale a pena, enquanto ela arrisca e vê isso depois. Ele pensa em economia para o futuro, ela quer mais viver o presente e faz sobrar mês no fim do salário. Planejamento e improviso; Cuidado e risco. Ciência e fantasia...


São de gerações diferentes esses dois. Calmaria e agitação; carrossel e montanha-russa; pesca e surf; isto e aquilo; aqui e acolá. Assim são esses dois... De gerações tão diferentes que mal dá pra explicar.


Se não soubéssemos que moram na gente poderíamos dizer que são de galáxias distantes, tamanha disparidade entre eles. O mais difícil nisso tudo é que nós, enquanto síndicos desse condomínio onde habitam, é que precisamos manter a política da boa vizinhança, mas quem disse que sempre dá certo? Ora achamos pertinentes as colocações do velho, outrora achamos de uma chatice sem tamanho e queremos dar vez às ideias da menina.


Há dias em que estamos movidos pelo impulso e outros pelo raciocínio. Em nosso cérebro esse conflito de escolher o melhor nos tira o sono, a árdua batalha entre  o racional e o emocional - indispensáveis constituintes do nosso eu- gera uma quase inevitável confusão. Diante de Razão e Emoção somos como relógios de pêndulo oscilando entre um e outro. É preciso tomar certo cuidado com os desvios do tal pêndulo, há momentos em que o estilo racional é mais cabível que o emotivo e vice e versa; a grande questão é: Quando devemos ser racionais e quando precisamos ser emotivos? A resposta para este questionamento não encontraremos nas letras de músicas ou versos de um poema de Drummond muito menos aqui. Somos os responsáveis por colocar na balança aquilo que vivemos. O bater do martelo é estritamente individual, entretanto, o que vai resvalar dessa decisão pode afetar muita gente. Cuidado.


Para finalizar não há uma receita mágica para seguir a lógica ou a vontade; necessário mesmo é avaliar o quanto nos fará bem ou mal tal escolha. Obviamente diversas vezes sentiremos "Podia ter feito diferente", mas no fundo não podíamos não! Escolhemos de acordo com para o que estamos preparamos naquele momento. Independente de deixar se levar pela coração ou pelo cálculo de variáveis faça com que sua escolha seja intensa, verdadeira e a aproveite para aprender lições e evoluir enquanto ser em constante reforma íntima!

PS. Esses dois são de gerações diferentes, mas no fundo no fundo se amam!


BC.