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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Quando as palavras transbordam



Existem aqueles momentos em que ficar em silêncio é a melhor maneira de ser compreendido. Por isso escrevo, estou mergulhado no silêncio mais barulhento de todos: o pensamento. Quando a boca não fala os olhos resolvem falar, a respiração procura se expressar, mas para quem escreve são os dedos, eles é que tomam a frente e colocam no papel ou na tela de um computador aquilo que vem passando pela cabeça, sem ordem cronológica, às vezes sem lógica.
O ideal em escrever é colocar ideias numa superfície sem podá-las, aleatoriamente, como quem conversa com um amigo e que a cada final de frase muda de assunto e acaba voltando para o mesmo quase sempre. E o mais legal nisto? É que você está em silêncio, mas seu texto ganha voz e imagens distintas de acordo com seu futuro interlocutor, que pode ser você, seu amigo ou o mundo e por vezes ninguém. Tudo muito relativo. A mesma palavra ganha roupagem diferente em cada um, pois, somos seres diferentes, com histórias diversas e algumas semelhanças às vezes, mas diferentes até nelas.
Ao pensar em seres humanos, penso que somos constituídos de carne, osso, coração e palavra; sendo a palavra o item que nos diferencia das outras espécies terrestres e sem a qual não teríamos os demais, nem a carne, nem o osso e menos ainda o coração. A palavra pesa, tem gosto, cheiro, cor, ela magoa, exalta, perdoa, condena, ama e não ama, depende da trama. Palavra, vocábulo, termo, verbo. Sinônimo, inominado, anônimo.
Nosso corpo é um templo de palavras, elas saem da boca, dos dedos, dos poros, são elas que compõem os pensamentos, os desejos, os medos... Tenho certeza de que já tenha ouvido algo sem escutar uma palavra sequer. Palavras certas e palavras erradas em momentos necessários ou não; uma voz com abraço, um abraço vazio de voz, sem laço. Uma palavra solta ao vento sem rumo ou atirada a um alvo.

Permito que as palavras transbordem de mim como a água de uma bica, para molhar os outros... Quem não gostar que se seque ou se resfrie. Essa decisão não é minha. E no caso dos que gostarem? Que se banhem e se arrepiem.